O Sonho de Brahms Collins
- Jorge Weslley
- 15 de jun. de 2016
- 6 min de leitura

Aqueles gritos de socorro, aquele medo de morrer presente na voz, aquele último pedido de ajuda...
Suspirou Brahms Collins, ao acordar de um enorme pesadelo. Tinha sonhado com sua única irmã, Aléxis Collins, desta vez, Aléxis, acabara se afogando no principal lago de sua cidade: O Lake Travis, situado em Austin, no Texas EUA. A sua família, chegara a cidade a pouco menos de um mês. Estavam contentes, pois deixaram suas vidas corridas em Washington e decidiram viver em Austin, uma cidade extremamente calma e aconchegante.
Antes mesmo de viajar, seus pais haviam dado regras que jamais poderiam ser quebradas, era justamente a ida ao Lake, pois como sua residência era localizada próximo ao lago, ele recebia milhões de turistas ao longo do ano, essa era a razão de que as crianças não poderiam se aproximar do lago sem a permissão dada por eles. Embora estivessem a poucos metros do imenso e estonteante lago, a regra era clara, e jamais poderia ser quebrada.
Aléxis e Brahms eram gêmeos univitelinos, tinham trezes anos, e eram bastante levados. Quebravam todas as ordens dadas pelos pais, sem medir conseqüências e fazendo tudo que era proibido. Quando estavam juntos, já se podia imaginar que algo poderia acontecer, e sempre se esperava o pior.
— Brahms, para onde você pensa que vai correndo desse jeito? Perguntou a mãe fazendo crochê sentada no sofá. Brahms virou-se lentamente para responder aquela pergunta, que já aparentava uma desconfiança. — É,... Vou brincar lá fora, mamãe. Respondeu de forma duvidosa — Onde está Aléxis? — Eu não sei onde ela está, até porque mamãe, eu não nasci grudado com ela. Seus olhos se encheram com a expressão facial de sua mãe. — Ora, você quer apanhar? Como ousa me responder assim? Que autoridade você tem para me dar essa resposta? — Mas mamã... — Vá para seu quarto agora! E não me desobedeça, caso contrário, você vai passar o dia inteiro de castigo no quarto! — Me perdoe... É que... — Você sempre pede perdão, mas sempre esta fazendo as mesmas coisas, agora suba, e só desça quando eu te chamar.
Depois das palavras finais, Brahms subiu as escadas correndo e foi direito para seu quarto, deitou-se na cama, pegou alguns gibis que estavam em cima da cômoda para ler, enquanto esperava o tempo passar. De repente, ouviu um pequeno barulho. Eram pequenas pedras que iam de encontro a sua janela. Então, levantou-se da cama, abriu a janela, e viu que era Aléxis que as arremessavam.
— O que você quer? Perguntou com arrogância! — Meu Deus Brahms, o que houve heim? Respondeu. — Aléxis, eu não sei se você sabe, mas eu estou de castigo por sua culpa. — Minha? O que eu fiz? — Respondi mal a mamãe, porque ela me perguntou sobre você. —Você é burro, e diz que a culpa é minha? Francamente Brahms, você já foi bem melhor. Ela sorriu, enquanto deitava na grama. — Mas já que me atrapalhou, o que você quer? Brahms refez a pergunta. — Hoje é o grande dia! Exclamou Aléxis com um sorriso. — Que dia? Não lembro de ter planejado nada de especial para hoje. — Affff, Brahms, hoje é o dia de quebrarmos a maior regra de todas!!! — Lembrou agora? — É mesmo... Tinha até me esquecido, hoje é o dia de finalmente irmos a Lake. — Isso aí maninho, vai ser demais. Nunca fomos lá desde quando chegamos, já estamos adiando isso há muito tempo, está mais que na hora de irmos. — Mas parece que vamos ter que deixar para um outro dia, além de você esta de castigo, você iria quebrar duas regras, a primeira: Por ter saído do castigo sem a mamãe autorizar, e a segunda: Por ter quebrado a regra principal que é irmos ao Lake. Aléxis o provocou com tom sarcástico. Brahms sabia que não era hora de sair e se arriscar, seus pais haviam pedido tanto para que isso não acontecesse, mas pagar de frangote para sua irmã, seria demais para ele. Ela poderia zoar-lo o ano inteiro. — Espere aí, irei dar meu jeito de sair daqui e ir com você! Brahms fechou a janela do quarto, e pensou em como sairia dali. Teve a idéia de amarrar, todos os lençóis que possuía até formar uma enorme corda, depois, amarrou na cabeceira da cama e jogou para fora do quarto, começou a descer vagarosamente, até enfim, por os pés no chão. — Uau, Parabéns! Você me surpreendeu. Aplaudiu a irmã se levantando do chão. — Pare de graça, e vamos logo, pretendo voltar antes das seis.
A cada passo que eles davam, Brahms sentia seu coração bater mais forte, e ao mesmo tempo, lembrou de sua mãe e do ocorrido naquele dia. Brahms sabia que mais uma vez estava fazendo coisas erradas, porém não queria admitir e se sentir um fracassado.
Ao chegar no Lake Travis, Aléxis ficou encantada com o imenso lago, seus olhos brilhavam com tanta beleza, parecia estar hipnotizada e nunca tinha visto algo igual. Brahms e Aléxis sentaram em um banco que ficava próximo ao cais, e começaram a admirar aquele lindo pôr do sol.
— Temos que chegar mais perto. Disse Aléxis se aproximando da ponte que ficava nas margens do lago. Brahms imediatamente segurou no braço de Aléxis para que ela não se aproximasse, pois não queria que algo de ruim acontecesse. — Me largue, eu só vou olhar de pertinho, espere aí que eu já volto!
Aléxis se aproximou da ponte, sentou-se, e começou olhar o horizonte. Aquele sol que estava se pondo, aquela sensação de frescor e prazer, eram os sentimentos que transbordavam dentro do interior da garota. De repente, Aléxis sentiu um enorme empurrão, e como estava na beira da ponte, foi de encontro a água.
Aléxis começou a se debater pedindo ajuda, no mesmo instante que Brahms correu até a beira da ponte e viu a menina agonizar. Brahms não sabia nadar, pensou em pular, mas ao mesmo tempo sabia que ia acabar morrendo. Brahms tentou chamar alguém, porém, tudo que encontrou era tremendo vazio.
Aléxis continuava a gritar, pedia socorro, ajuda, e Brahms apenas chorava na beira da ponte, Brahms saiu transtornado dali, gritou pelas ruas pedindo ajuda. Chegou em casa em menos de 3 minutos. Procurou sua mãe por toda a casa, na esperança de encontra-la, desesperado, abriu a porta do quarto dos seus pais e os encontraram mortos em cima da cama, sua mãe, estava totalmente perfurada e seu pai com uma enorme faca enfiada na barriga, o quarto, estava totalmente ensangüentado e os seus pés, começaram a se encher de sangue. Olhou para a parede, e viu que estava escrito: “Brahms, fuja!”.
Brahms tentou socorrer seus pais, não conseguia entender o que estava acontecendo. Primeiro: Aléxis cairia no lago sem explicação alguma. E segundo: seus pais acabara mortos de forma misteriosa. Brahms tocou em seus pais, no intuito de reanima-los. A cada toque, sentia suas mãos inundadas de sangue, que formavam enormes possas.
Brahms saiu correndo sem rumo algum, desceu as escadas, abriu a porta da sua casa, e começou a correr, não olhou para trás, seu corpo e seu pânico, esconderam sua forma autentica de ser. Já exausto, Brahms sentou debaixo de uma arvore que ficava próxima ao Lake, os gritos de Aléxis, a imagem de seus pais mortos, o pânico que sentia, passavam como filme em sua mente. Ainda com medo, levantou-se e foi de encontro a Aléxis, ao chegar na ponte, se aproximou lentamente até a beirada, para ver se Aléxis ainda estava lá. Ao se aproximar, viu que agora já não se encontrava mais ali, e ninguém estava por perto. Brahms, debruçou-se ao chão, colocou as mãos sobre a cabeça e começou a gritar, já estava totalmente transtornado, sentia seu mundo girar, que era acompanhado com um enorme vazio em seu coração.
— AAAAAAAAAAAAH!
Brahms acordara de mais um pesadelo. Tudo aquilo vivido era apenas mais um sonho, na verdade, um péssimo sonho. Brahms levantou-se da cama, e olhou em volta do quarto. Observou que todos os seus gibis ainda se encontravam espalhados na cama, os seus lençóis, permaneciam no mesmo lugar, e sua janela ainda estava fechada. Brahms ligou as luzes do quarto, calçou os chinelos e desceu correndo as escadas. Observou que sua família continuara na casa, e nada que tinha sonhado realmente tinha acontecido.
Brahms foi de encontro a sua família, seus olhos, já se enchera de lágrimas, sua irmã, não conseguia entender aquela atitude. Era um outro Brahms, renovado, com conceitos diferentes. Brahms sentiu na pele a dor da perda, ele amava sua família, e que sem ela não conseguiria viver. Brahms aprendeu, que pior que a dor da perda de alguém querido, é o sentimento de culpa, por ter jogado fora, inúmeros sorrisos, afetos, carinhos e amor.
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